Sábado, 29 de Novembro de 2008

o universo paralelo

 

A sensação extraordinária que por vezes temos de já termos estado em determinado local parece indicar que existe alguém igual a nós num universo paralelo, ou porventura que tenhamos estado no referido local numa suposta vida anterior, ou mesmo que podemos ter poderes excepcionais para prever o futuro. Talvez, quiçá por hipótese, existe um problema com o nosso registo de tempo que é ao mesmo tempo também temporário. Um dos aspectos mais importantes da nossa forma de lidar com o mundo, em geral, diz respeito ao tempo. Tudo o que nos acontece – como por exemplo remoto: estar realmente a ler este post – fica registado nos nossos cérebros numa espécie de arquivo temporal situado no hipocampo. Poderá lembra-se que leu estas palavras há menos tempo do que as que lhes precederam, e isso acontece porque o nosso registo de tempo está organizado por etiquetagem. Caso não tivéssemos qualquer ideia da ordem de acontecimentos das coisas nas nossas vidas, seria como ver um filme em que as imagens tivessem sido montadas ao acaso. Não só arruinaria quase por completo os nossos dias, como também perderíamos quaisquer noções sobre como se desenrolaram os acontecimentos desde que acordámos pela manhã até quando nos deitámos pela noite. Na verdade, a ideia de “dia” não teria mais qualquer significado para nós pois, na nossa memória, o Sol seria como que um objecto estranho e a Lua não mais que um corpo desconhecido. A experiência de cada momento das nossas vidas é, portanto, fixada num gráfico temporal da mente. Simultaneamente, encontrar-se-á a comparar cada nova experiência às memórias e expectativas que já estão armazenadas no cérebro. Se a experiência de um momento particular, à medida que esta é vivida para ser editada num filme, não consegue ter um registo temporal, a nossa massa encefálica assume que uma vez que essa experiência não se encaixa no presente, terá que ser duma outra secção da memória. Porventura dum arquivo temporal antecedente. Exactamente dum momento do passado, que não conseguimos discernir, e por isso é que as experiências de déjà vu têm versões difusas ou dalgum modo estapafúrdias (!)

 

Então, o cerne desta questão prende-se com o facto do déjà vu ter que ser visto para crer porque embora possa parecer que é, na verdade nunca o foi. O déjà vu é apenas uma reacção psicológica com o principal intuito de nos confortar. Ou seja, quando estamos numa qualquer falésia onde o vento faz a curva e nós abanamos quem nem varas verdes, basta termos uma sensação de déjà vu para logo, nesse preciso instante, nos sentirmos mais agasalhados. Traduzindo à letra do francês, déjà vu significa tão-somente: já visto. É ao mesmo tempo uma expressão também muito utilizada pela crítica artística, seja ela literária, cinematográfica, teatral ou musical, no sentido de que o objecto da crítica não veio trazer nada de novo, nenhuma originalidade ao mundo. Em vez de dizerem: “ – Mais valia estares quietinho! “, os críticos preferem aligeirar a coisa. Porém, para os que querem ser mais precisos – e porque não mesquinhos – existem outras variantes de déjà vu. Por exemplo: déjà vecu, déjà senti, déjà visité ou ainda (o meu preferido de todos) déjà forniqué. Se a nossa vida fosse como um filme, nunca teria uma sequela pois seria impossível representá-lo ao mesmo tempo que lemos o guião, até porque não o existe. A menos que fosse um daqueles filmes noir da nouvelle vague onde ninguém se entende e é tudo de improviso. O mais próximo que estaríamos dum inusitado déjà vu seria só se repetíssemos algumas cenas corriqueiras do nosso quotidiano. No entanto, isso seria mais parvoíce do que outra coisa pois trata-se apenas de rotina. Há quem faça filmes por tudo e por nada, convicto que a sua vida é tal e qual o Matrix e que vive num universo paralelo ou coisa que o valha. Mais isso não é um déjà vu, mas apenas muita ganza nessa tola, pá! Quer um conselho? Mude de dealer! Se a sua vida fosse de facto como o Matrix, estaria absorto num grave caso de psiquiatria. Não se trata duma conspiração contra si mas apenas dum filme de segunda categoria que paira nessa sua cabeça tonta, entende? Mas é possível explicar o déjà vu em termos de memória perdida, inatenção ou falta de clarividência. Porém, podemos falar da sensação de déjà vu. Tem graça,  acho que já li este post (!)

 

Um abraço...

shakermaker

 

para ver: The Matrix » Fishburne /Reeves
para ouvir: Parallel Universe por RedHotChiliPeppers em Californication
blogjob por shakermaker às 00:00

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