Quinta-feira, 6 de Novembro de 2008

atalho: o desvio mais longo

 

Quando alguém diz “conheço um atalho”, esta frase por si só causa-nos logo um arrepio pela espinha abaixo. Mentalmente, todos os passageiros que partilham connosco a viagem acrescentam duas horas à sua duração. Cada novo desvio é uma autêntica carga de trabalhos. Não vamos querer virar na estrada errada e acabar na Cochinchina. Confirmar o trajecto que estamos a fazer, e lembrarmo-nos da sinalização a cada metro de estrada, dá origem a um esgotamento nervoso. Quando mais tarde nos lembrarmos do percurso, a nossa memória estará repleta de incidentes e associada à pressa e ao medo de nos perdermos. E as viagens acabam por parecer muito mais longas. Da próxima vez que nos metermos por esse atalho tudo será muito mais fácil: a ansiedade será menor e o relógio interno andará mais devagar. Teremos, ao mesmo tempo, uma menor sensação de pressa. Os incidentes e a sinalização serão “abafados”, de tal forma que o átrio da igreja, o posto de combustível, os dois postes de electricidade, a loja de animais e o virar na segunda à esquerda serão substituídos simplesmente por virar à direita na primeira saída da rotunda e depois seguir a placa para Catraponga de Baixo. Quanta mais informação processarmos para descortinar um determinado caminho, mais confusões iremos fazer ao longo do mesmo: daí ser mais prático recolher menos informação mas melhor organizada. No entanto, são sempre precisas umas quantas viagens até que um atalho comece de facto a ser percebido como tal. Gostamos de planear atalhos nos nossos percursos: o que não deixa de ser algo hilariante numa cidade como Lisboa, onde os sinais de sentido proibido e ruas de sentido único quase que parecem terem sido concebidos para frustrar os amantes de atalhos. As estradas estão de facto assinaladas nos mapas mas não há forma de saber se as podemos usar. Por isso, um mapa de Lisboa é tão útil para ajudar a atravessar a capital quanto um GPS (!)
 
Ora, para quem não sabe, GPS significa Global Positioning System, e para os leigos rodoviários acredito que seja realmente de grande utilidade. Porém, para os mais apressados e restantes chicos espertos, um GPS só acaba por atrapalhar pois é baseado em mapas: os mesmos que não nos servem para nada. Assim, os sinais de trânsito irão encurralar-nos, na mesma, sempre que estamos com a nossa pressa habitual. Assim, um GPS servirá apenas para nos indicar a que distância estamos dum determinado local, e pouco mais. O ideal seria ter um GPS que nos informasse de coisas realmente importantes, tais como: vira já na próxima à esquerda, que não vem lá nenhum carro, e não te preocupes que tenha sentido proibido pois é o melhor atalho e não está nenhum policia a ver. Isto sim, seria um GPS como deve ser e como um português devia ter. Há também um aspecto curioso no trânsito: por vezes, seguir por um certo caminho demora bem mais do que voltar atrás. Quando andamos numa estrada pela primeira vez tudo é novo e diferente, e fica armazenado em bancos de memória no córtex dos nossos cérebros. Então, a viagem de volta será menos carregada, mais fácil de se fazer e também parecerá mais curta. Porém, quase todos nós preferimos viajar às cegas pois confiamos profundamente nos nossos instintos. Logo, preferimos tomar um atalho mesmo quando não temos a certeza onde este nos leva. Isto porque acreditamos sempre que lá chegamos: mesmo quando as nossas mulheres nos pedem para lhes encontrarmos o ponto G. Não obstante, nós sabemos que existe o ponto G, só que não se vê! E quando elas nos questionam: “ – Oh homem, eu disse o meu ponto G, porque é que estás a esgravatar no meu umbigo?”; nós preferimos não dar parte fraca: “ – Calma mulher, já estou a caminho, estou só a apanhar um atalho". E estamos, de facto. E cada vez mais perto, é certo. Só que o tempo vai passando... E não damos com o caminho (!)
 
Um abraço...
shakermaker

 

para ver: Lost Highway » Lynch /Arquette
para ouvir: Road To Nowhere por Talking Heads em Little Creatures (1985)
blogjob por shakermaker às 00:00

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