Quinta-feira, 11 de Setembro de 2008

porquê do quê das quantas?

 

Por muito que achemos ter sempre razão, por vezes os verdadeiros factos refutam totalmente os melhores argumentos: demonstrando-nos precisamente o contrário. Então, e logo após termos acabado por meter os pés pelas mãos, não sabemos exactamente o que fazer em seguida. Pois bem, o melhor será mesmo continuarmos por lá, que é tal e qual como quem diz: precisamente no sitio onde nos espalhámos ao comprido. Sim, é bem mais seguro manter os pés em cima dessa, digamos, trampa que acabámos de fazer. Talvez sejamos cretinos demais para o notar, mas essa perseverança nauseabunda pode ser expressa por duas coisas: retractação e remorso. Ora, se estas palavras estivessem escritas na ponta de cada uma das duas setas dum cata-vento desgovernado pelo mau tempo, não obstante uma tempestade severa, essas mesmas setas apontariam sempre para um mesmo e único sentido: a teimosia. Contudo, a teimosia tem duas vertentes distintas: a mais estúpida e a menos estúpida. Na teimosia mais estúpida, acontece que basicamente ficamos a falar sozinhos. Ou seja, mantemos na mesma a nossa posição anterior sem desviar sequer uma vírgula e, ao mesmo tempo, continuamos a repetir os nossos argumentos, por conseguinte e continuamente, estúpidos. Além disso, não será de estranhar que as pessoas outrora em nosso redor vão-se afastando. Não tarda muito estará isolado quanto baste. Digamos que é como aquele lema do “orgulhosamente só”, embora possa ser interpretado apenas como estupidez isolada. Aliás, não aceite sequer nenhuma crítica nem se ponha a emendar o que disse anteriormente,  quando ainda nem fazia a mínima ideia do que estava a dizer,  até porque ninguém precisa de saber (!) 

 
Todavia, se optarmos por uma teimosia menos estúpida, encetamos por aquilo a que se pode chamar dum segundo fôlego. Atenção: continuamos sobreaviso mas pelo menos temos agora uma nova oportunidade para nos explicarmos por outras palavras. É como se alguém nos estendesse a mão – não para nos puxar para cima, lá do buraco onde nos enfiámos – mas apenas para nos emprestar um rolo de papel higiénico. Agora, e depois de nos “limparmos”, por assim dizer, é tempo de nos convertermos nuns autênticos troca-tintas e aproveitar ao máximo esse breve momento de redenção para desconversarmos. Assim, pode-se afirmar peremptoriamente que isto de desconversar é muito mais difícil do que apenas conversar. Ou que emendar uma conversa anterior é bem mais fácil do que à partida se deparava. Isto porque já ninguém se lembra muito bem de como tudo aquilo começou pois somente retemos na nossa lembrança naquilo em que acabou. Então, esta é precisamente a altura exacta para começar a desconversar. Comece por dizer que talvez não se tenha feito entender mas sem nunca deixar de mencionar que, ao mesmo tempo, e naquele preciso momento, também foi mal interpretado pelos demais. Sim, é importante nunca dar o braço a torcer ou deveras aceitar quaisquer lições de moral vindas de quem vier. Assim como também é importante desvalorizar qualquer tentativa mais aprofundada para esclarecer tudo tintim por tintim: por isso, deixe todos os assuntos o mais à tona possível. Instigue sempre pela superficialidade sem contudo deixar sempre de tentar uma nova explicação. Mas desconversando, claro está. Ora, desconversar, não é mais do que pegar numas quantas palavras vindas do nada e a caminho de lado nenhum, e dar-lhes toda uma nova orientação desatinada e desprovida de sentido. Algo que deixará os outros a pensar em coisas, tais como: o quê (?); será que estou a ouvir bem (?); o que se passa (?) 
 
Por exemplo: quando constatar perante todos os outros que aquilo que lhe pareceu um micro-ondas branco é na realidade um televisor preto, pode sempre argumentar que esse mesmo objecto, de forma rectangular, à primeira vista, se confunde com a rectangularidade dum bendito televisor. Da mesma forma,  esse objecto também lhe pareceu ser branco, até porque os electrodomésticos são geralmente quase sempre brancos. Pois bem, isto é também uma outra maneira de desconversar. Na verdade, por mais absurda que possa parecer esta sua argumentação alternativa, esta não está de todo errada, ou desprovida de sentido, mas apenas sofreu uns ligeiros desvios. Equivocou-se, claro que sim, mas tem uma boa desculpa. Lembre-se que o objectivo não é ter razão mas manter uma postura razoável. Por mais que os outros fiquem atónitos e boquiabertos com as suas malfadadas explicações, ninguém terá coragem ou sequer reacção para contrapor os seus argumentos por mais fracos que estes sejam. Acredite: ninguém vai achar que valha a pena querer saber por onde tudo começou ou sequer aonde acabou. As coisas são como são e ficam como estão sempre que não sabemos donde chegaram e para onde vão. No entanto, se alguma coisa correr mal para o seu lado, pode sempre accionar um último trunfo: a sua liberdade de expressão. Sim, tal como se apregoa por aí, cada um tem mesmo o direito à sua opinião pois nem sempre se podem colocar definitivamente os pontos nos ii. Por vezes, as respostas às perguntas para as quais não sabemos a resposta devem ser respondidas com outras tantas perguntas. Nota final: sempre que se sentir numa posição difícil, encurralado entre a espada e a parede ou – como dizem os anglo-saxónicos – "stuck between a rock and a hard place": desconverse (!)
 
Um abraço...
shakermaker

 

para ouvir: Just When You're Thinkin' Things Over por The Charlatans
para ver: The Happening » M.N.Shyamalan
blogjob por shakermaker às 00:00

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