Segunda-feira, 11 de Junho de 2007

chutos nos tomates

 

Pode parecer estranho, mas a voz e o sexo têm mais em comum do que se possa pensar. Por vezes, ao falar-se do “belo órgão” de um cantor, dissimula-se mal a ambiguidade. Uma onda sonora pode-se erguer virilmente no espaço penetrando nas orelhas femininas. Os castrados, porém, abalam fortemente este esquema pois possuem o “órgão” sem os “órgãos”. Como fazem eles então? Que se saiba, as cordas vocais não se situam nos testículos! A meu ver, os castrados foram como produtos directos da dominação masculina. Tudo terá começado quando, antigamente, os religiosos não aceitavam mulheres nas igrejas. Apreciavam os coros mas, só com baixos e barítonos, a nave carecia de pureza etérea. Haviam as crianças, mas eram um pouco franzinas, vocalmente falando. Então, como as mulheres eram consideradas impuras, a Igreja, que até ao momento só era castradora no sentido figurado, começou a sê-lo na acepção própria do termo.

 

Algures entre 1600 e 1900, milhares de putos sob tutela da Igreja, sofreram a chamada: amputação suprema. Dizem que no século XVIII eram castrados cerca de 5000 por ano, essencialmente em Itália, mas também noutros países europeus. Suprimida a fábrica da testosterona, o corpo do castrado, quando atingia a puberdade, não se enchia de hormonas como o dos outros rapazes. A testosterona actua nomeadamente sobre as cordas vocais. Na verdade, não são bem cordas, mas simples membranas situadas na laringe que quando badalam entre si, reproduzem sons com os quais emitem a voz. O que faz com que uma voz seja aguda ou grave é o tamanho e a elasticidade das cordas vocais. Logo, a supressão da testosterona mantém a laringe num estado infantil. Acresce dizer que a voz não é só isso pois o som também faz vibrar algumas cavidades do corpo humano, como a garganta ou o peito, contribuindo para a potência sonora.

 

Então, como os castrados possuíam cavidades internas iguais às dos homens, a sua voz era única: aguda como um pirralho, mas com uma caixa de homem adulto. Por isso, era essencial que a castração se fizesse antes da puberdade porque quando a testosterona virilizava os órgãos vocais, os seus efeitos não poderiam ser anulados. Sabe-se que os castrados encantavam as mulheres e padres que viam neles a expressão de uma graça divina. Não se falava na carnificina que criava esta mesma graça ou de como a maioria desses cachopos sucumbia por hemorragias ou infecções mortais, sobretudo quando era um barbeiro ou o homem do talho a operar. Sem contar que, a par dos raros castrados bem sucedidos, havia milhares que nunca conseguiam tornar-se grandes cantores. Está visto que cortar os tomates não faz de ninguém uma estrela da ópera mas convenhamos que dava jeito que dotasse as plateias de ópera com um bom ouvido musical.

 

É verdade que, desde sempre, a voz tem sido um instrumento de sedução, principalmente quando os homens querem conquistar as mulheres. Podemos dizer que os êxtases timpânicos originam êxtases vaginais, mas apesar dos castrados encantarem as mulheres com os seus divinais dotes vocais, não o conseguem repetir com os seus dotes sexuais. Ou seja, um destes tenores mesmo tendo as partes mais compridas dos seus genitais, não produziam testosterona, perdendo assim toda a sua libido. Apesar de conseguirem ter erecções, conservavam um sexo ainda infantil que não tinha passado pela metamorfose da puberdade. Há razões para questionar se não seria mesmo isso que a Igreja pretendia. Os castrados talvez tivessem uma bela voz, mas também serviam perfeitamente para a eliminação do sexo nos seminários da altura. Hoje em dia, já não se fazem castrações por motivos religiosos mas um bom chuto nos tomates já serve para ter uma ideia do que é uma castração. Ou, porque não, dum belo vozeirão.

 

Um abraço...

shakermaker

 

para ver: Number23 » J.Carrey / V.Madsen
para ouvir: A Punchup At A Wedding por Radiohead em Hail To The Thief
blogjob por shakermaker às 00:00

ISOLAR POST | RECOLHER POST
De cigana a 17 de Junho de 2007 às 00:27
Sem dúvida que a voz e o sexo têm muito em comum, e é evidente que não me estou a limitar ao campo musical.
Gostei muito desta crítica e das inerentes contradições. As tais vozes supremas podem despertar êxtases femininos no belo canto, porque na realidade um homem com voz cristalina não é propriamente sedutor...
É a tal coisa... muita fama e pouco proveito!
Nada como aliar uma voz sensual aos restantes dotes masculinos. Ouro sobre azul!


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