Sexta-feira, 17 de Julho de 2009

o cintilante não é brilhante

 

Quantos mais botões e luzes a piscar, pior funciona. De facto, quando vemos luzes a piscar sobre linhas aerodinâmicas, desperta-se na memória coisas associadas com filmes de ficção científica, naves espaciais, inteligência superior, alta tecnologia, multifuncionalidades ou computadores quânticos que custam biliões de euros. Só que uma parte do nosso cérebro também devia, ao mesmo tempo, calcular que, se foi gasto um orçamento tão grande naquele aparato, não pode ter sobrado muito dinheiro para que o interior funcione em condições. Só que a nossa consciência é soterrada por uma memória mais sedutora, inspirada nas tais luzinhas intermitentes que nos despertam a atenção. Estes estímulos foram investigados pela psicologia moderna em estudos com – nada mais, nada menos – algumas gaivotas. É verdade, e constataram nas suas observações que se um ovo falso fosse colocado no ninho era tratado como sendo da família. Contudo, se o ovo fosse enorme e reluzente, as gaivotas tratavam-no com mais empenho e dedicação. Aliás, os animais tal como nós, são atraídos por tudo aquilo que reluz ou cintila. Veja-se, por exemplo, a cauda dos pavões. Todo o tipo de teorias foram avançadas para o crescimento extraordinário da cauda dos pavões. Sob o ponto de vista da mera sobrevivência, este é uma peça de bagagem desastrosa para se transportar de um lado para o outro. Só que os pobres coitados dos pavões doutra forma nunca encontrariam uma companheira, por isso é que precisam deste equivalente aviário das nossas luzes intermitentes(!)
Ora, o acto de empacotar alguma coisa tende a desvirtuar a nossa percepção sobre o seu conteúdo: uma grande caixa significa um grande objecto lá dentro. Somos constantemente induzidos em erro pela publicidade que nos aprisiona a inteligência o tempo suficiente para nos extorquir dinheiro. Por mais que achemos que não se deve comprar um livro pela capa, não deixa também de ser verdade que as primeiras impressões são sempre importantes. Antes de sequer abrirem a boca, ao estarmos perante duas mulheres sentadas – lado a lado – mesmo à nossa frente, por qual das duas sentimos uma maior empatia? Por aquela que tiver um maior, e sobretudo melhor, decote. O que não quer dizer que a mulher preterida não tenha um par de mamas mais perfeito: só que não se vê! Porém, se esta tiver um letreiro dizendo que tem um peito com tamanho 103-105, copa D, 100% natural, então paramos para pensar. Ficamos diante dum paradigma: escolher o produto que vislumbramos parcialmente e que nos despertou de imediato a atenção ou, por outro lado, escolhemos um produto que não vemos mas que segundo as características parece ser promissor. No fundo, é um pouco como aqueles anúncios dos TFT ou Plasmas cujos ecrãs têm 42 polegadas mas só se os medirmos na diagonal. Da mesma forma que certos decotes só se seguram dentro dum bom soutien(!)
Assim, alguns produtos anunciam uma nova fórmula, originalmente moderna, revista e aumentada, oferecendo o melhor deste mundo e do outro, o antigo e o moderno. Porém, na verdade, nem sempre assim acontece. Alguns produtos de ingrediente naturais incluem muitas vezes altos teores de açúcar, gordura e sal naturais. Mas nós gostamos de ver escrito nas embalagens coisas como orgânico, quando na maior parte dos casos isso quer dizer amadurecido. Ou então suculento, que significa literalmente: carregado de gorduras. Por mais etiquetas que ponham nos produtos, por maiores que sejam os ovos, por tão sensuais que sejam os decotes ou por mais que nos pavoneemos, nada nos chamará mais a atenção do que as luzes piscando. Convenhamos que tudo o que brilha, encadeia ou pisca nos chama a atenção. Um mero pinheiro num pinhal passa de certeza despercebido mas com luzes a piscar transforma-se num pinheiro de Natal. Todavia, como referi no início, apesar da parafernália das luzes e do aparato dos brilhos, isso não quer dizer que estejamos perante algo melhor ou mais eficaz. Mas, nalguns casos, pode fazer toda a diferença. Por exemplo, caso as mulheres tivessem uma simples luzinha – nada assim de espalhafatoso – a piscar no clítoris, seriam certamente muito mais felizes(!)
Um abraço...
shakermaker
para ouvir: Shine A Light por The Rolling Stones em Exile On Main St.
para ver: Shine A LIght » MartinScorsese
blogjob por shakermaker às 00:00

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De zeze a 20 de Julho de 2009 às 13:15
Olá Amigo

Quanto tempo!! Estou a ver que continua a haver sempre pontos de interesse por aqui

Um Abraço
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