Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008

estou cansado de ser sexy!

 

Oh! De repente, a "serpente emplumada" ficou agarrada aos pequenos botões metálicos do corpete e o gesto gracioso tornou-se, bruscamente, duma rigidez desastrada. Depois, na altura em que se baixava para tirar os saltos altos, o público, siderado, ouve uma pequena flatulência soltada por inadvertência. Ou mesmo um longo ruído abafado mas irritante da saia de tecido de algodão a rasgar-se no roçar pelo varão. Ora, o falhanço da profissional de striptease tem pouco que ver com a sua anatomia. Nem sequer tem que ver com o seu tipo de roupa (nos raros momentos em que está vestida). O falhanço dum striptease está nos gestos, numa certa aspereza não desejada. Está presente num movimento de ancas a mais, num tornozelo que fica quase torcido, num gesto do braço demasiado apoiado ou até mesmo num sovaco mal rapado. Mas, cuidado! Na versão lolita, apenas com um fio a tapar o rabinho e uma faixa a tapar as maminhas, que se vêem regularmente nas versões burlescas de Alice, no País das Maravilhas – nos espectáculos de beira de estrada para camionista ver –, essa aspereza pode ter uma poderosa vertente cómica. Ou até ser extremamente comovente, caso a criatura, jovem e frágil apesar das curvas imberbes e generosas, conseguir preservar um certo equilíbrio entre o deprimente e o eloquente. O mau striptease provoca no espectador uma certa náusea ou um nojo assustador mesmo perpetrado pela mulher mais bela de sempre. Pode até suscitar uma repulsa tal que um indivíduo pode até, nesse preciso instante, renunciar definitivamente aos prazeres carnais, e duma assentada só! Tanto a mais desajeitada profissional de striptease como a mais estouvada dona de casa, têm a possibilidade de serem sexy desde que se predisponham a tal. Até para quem não tem uma graça natural ou um corpo escultural, basta-lhes para isso apenas uma enorme determinação. Quer seja num palco, num varão, na cama ou no chão, uma mulher tem que saber o que ela própria quer antes de um homem pensar o que raio se está a passar!? Primeiro que tudo, devemos gostar de nos despirmos apenas para nós: quando levantamos as mamas ou o pirilau diante do espelho quando estamos a inspeccionar os nossos atributos. Isto, quer os tenhamos ou não, pois o mais importante é considerarmos que sim. Tudo bem, mesmo se soubermos que somos uns estafermos sem ponta por onde se lhe pegue, devemos acreditar convictamente que conseguimos ser sensuais mesmo que nos achemos uns “anormais”. Mas, claro está, há sempre um limite para tudo o que é absurdo. Vai daí, há já muito tempo que me vou enganando e também durante algum tempo consegui enganar meio mundo: mas, agora, estou cansado de ser sexy!
 
Um abraço...
shakermaker
 
para ver: Body Double » dePalma / Wasson
para ouvir: Stripped por Depeche Mode em Black Celebration (1986)
blogjob por shakermaker às 00:00

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