Sábado, 10 de Novembro de 2007

não atire o pau ao gato

 

Pegue no bichano e aninhe-o no seu braço esquerdo, como se estivesse a segurar um bebé. Coloque o indicador e o polegar da mão direita nos dois lados da boquinha do tareco e aplique-lhe uma suave pressão nas bochechas, enquanto segura o comprimido na palma da mão. Quando o felino abrir a boca, atire o comprimido lá para dentro: o mais rapidamente que lhe for possível. Deixe o gato fechar a boca e engolir. Bom, não desespere pois a primeira vez nem sempre corre bem. Recupere, então, o comprimido do chão e o gatinho detrás do sofá. Volte a aninhar o bichano no braço esquerdo e repita o processo. Calma, não adianta começar já a praguejar. Vá buscar o gato ao quarto, debaixo da cama, e deite fora esse comprimido meio desfeito. Retire de novo outro comprimido da embalagem e volte a aninhar o tareco no seu braço, enquanto lhe segura firmemente as patas traseiras com a mão esquerda. Agora, obrigue o gato a abrir as mandíbulas e empurre novamente o comprimido, com o indicador direito, pelas goelas abaixo. Mantenha-o com a boca fechada e conte até dez. Pois, fazemos então assim: continue a contar até cem para se ir acalmando. Isso – respire fundo e quando terminar pode resgatar o comprimido que está no meio das cinzas da lareira e o bichano de cima do roupeiro do quarto. Vá lá, não se irrite: tem que ser mais paciente.

 

Ajoelhe-se no chão com o gato muito bem preso entre os seus joelhos. Segure-lhe as patas da frente e as de trás. Ignore os rosnados do seu felino e peça a alguém que segure com firmeza na cabeça do gato com uma mão, enquanto força a ponta de uma régua para dentro da boca do gato com a outra mão. Deixe cair o comprimido ao longo da régua, como se dum escorrega de tratasse, e esfregue vigorosamente o pescoço do tareco. Não fique assim, estas coisas levam o seu tempo e desatar a dizer palavrões não o vai ajudar em nada, bem pelo contrário. Vá buscar o gato ao suporte dos cortinados e retire outro comprimido da embalagem. Aproveite para fazer uma pausa e varra cuidadosamente os cacos daquela estatueta que tanto gosta e guarde-os para colar mais tarde. Enrole o miau numa toalha grande e peça a alguém, se ambos ainda tiverem coragem, para se deitar por cima do bichano, e para que apenas a cabeça do gato lhe apareça por debaixo do sovaco. Coloque, desta vez, o comprimido na ponta duma palhinha de beber, obrigando o gato a abrir a boca, e a mantê-la aberta com a ajuda dum lápis. Agora, assopre o comprimido da palhinha para dentro da boca do felino. Grande bronca! Calma, não desespere! Leia rapidamente as contra-indicações inclusas na embalagem para verificar se o comprimido faz mal a humanos.

 

Agora que tossiu e já não está mais engasgado, remova a sua saliva da carpete da sala com auxílio de água morna e sabão. Vá novamente ao quarto retirar o gato de cima do roupeiro e, no caminho, traga outro comprimido. Coloque o tareco dentro do roupeiro e entale-lhe a cabeça entre as portas, de forma a ficar apenas com o focinho de fora. Force a abertura da boca do gato com uma colher de pau. Utilize também um elástico como fisga para atirar o comprimido pela garganta do bichinho abaixo. Vá buscar uma chave de fendas à arrecadação e coloque a porta do armário de novo nos eixos. Verifique, na sua cédula, a data em que apanhou a última vacina contra o tétano e aplique uma compressa nos seus arranhões da bochecha. Amarre as patas da frente do gato com as patas de trás com uma corda e prenda-o bem à perna da mesa da sala de jantar. Vá buscar umas luvas de couro e outro comprimido. Empurre de novo o fármaco para dentro da boca do tareco, seguido de uma colher de comida. Atenção, tem que ser suficientemente bruto desta feita. Segure a cabeça do miau na vertical e despeje-lhe um litro de água pela goela abaixo para que o comprimido desça. Sossegue, pois esse golpe no lábio inferior não tardará a fechar: basta que, para isso, coloque um pouco de Betadine e deixe o fármaco actuar por algum tempo.

 

Bom, e agora que já não tem mais comprimidos para dar ao seu bichano, aproveite e descanse com o gato no seu colo. Porém, primeiro, terá que o ir buscar à rua e depois substituir o vidro da janela por onde o tareco se atirou. Mas não se preocupe pois o gato deve estar bem. Afinal, ao contrário de si, o seu gato tem sete vidas. Aproveite esta pausa e considere a hipótese de ir com o gatinho a um veterinário para que este lhe dê o bendito comprimido. Se mesmo assim não resultar, então talvez seja melhor contactar os préstimos dum exorcista. Experimente nos anúncios classificados do Correio da Manhã. É claro que terá que gastar algum dinheiro mas, bem feitas as contas, aposto que terá menos prejuízo do que terá que desembolsar pelos estragos na sua casa. Não adianta praguejar diante do miau pois não só ele não o entende como continuará a fazer figura de parvo. Não acha que já chega? Já viu bem o estado lastimável em que ficou a sua sala? E todas essas arranhadelas – presumo que devem arder como o raio que o parta! Seja sensato e não atire o pau ao gato: o pobre do bicho não tem culpa da sua falta de jeito. Sabe, devia ter dado ouvidos aos seus amigos antes de ter levado o felino para casa. Para a próxima, escolha antes tartarugas. Ou, a avaliar pela sua falta de jeito, um peluche. Sim, um sossegadinho e simpático amiguinho de pelúcia.

 

Um abraço...

shakermaker

para ver: Cats » Andrew Lloyd Webber
para ouvir: An Cat Dubh por U2 em Boy
blogjob por shakermaker às 00:00

ISOLAR POST | RECOLHER POST
De Alma a 10 de Novembro de 2007 às 17:39
Bem, é a 1ª vez que chorei de tanto rir a ler um post!!! fantástico simplesmente!!!

Para mim, que sou alérgica a gatos, deixava o bichinho recuperar naturalmente, assim como quem não quer a coisa...

Parabéns pelo excelente blog!
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